28 de março de 2024

Saúde Mental

O gatilho emocional é uma realidade que afeta a grande maioria das pessoas, e que pode ser disparada por uma palavra, um cheiro, uma música... Sendo assim, as emoções represadas que vem à tona podem provocar reações físicas, como tremores, falta de ar, lágrimas ou sorrisos, respostas ríspidas a gritos ou mesmo uma agressão.

Chamado de gatilho emocional ou mental, essa espécie de "disparo de traumas" aciona cadeias de memória ruins e têm poder para mudar o estado de humor, interferir na forma como se toma decisões e no comportamento social. É uma situação que precipita sentimentos e sensações desagradáveis para alguém, afetando aspectos que podem ser muito sensíveis ao indivíduo, como baixa autoestima ou sentimentos de desamparo.

Traumas


Como foi dito anteriormente, os gatilhos mentais podem surgir por diversas maneiras e podem representar uma pessoa, um lugar e até um tom de voz. Maria Clara deu um exemplo para entender como emoções não trabalhadas pode influenciar no futuro de uma pessoa.

"Vamos imaginar uma pessoa que teve um pai muito rígido e rigoroso. Na infância, bastava ele olhar de determinada maneira que a criança sentia medo e ficava extremamente mal. Anos depois, na vida adulta, aquela criança tem contato com um chefe rígido e basta um olhar para ela voltar aquela vivência infantil, que faz ela sentir muito medo", exemplifica.

Segundo a psicóloga, é comum as pessoas lembrarem de momentos ruins. Mas a diferença do gatilho emocional é a intensidade dessa lembrança.

"Quando a gente entra em contato com um gatilho, a gente está em contato com aquelas emoções que estavam guardadinhas e a gente não cuidou", relata.

Para quem se depara com momentos como esse, a psicóloga sugere uma técnica chamada RID, que consiste em respirar, identificar o problema e decidir o que fazer com ele.

 

📌 Relaxar: o primeiro momento é relaxar, respirar. Respire uns 30 segundos, feche os olhos, se sente e se traz para si. Fale que está seguro, foque que não está mais naquela situação ruim. Preste atenção no lugar em que se está para se sentir mais seguro.

📌 Identificar: em seguida, quando se sentir mais relaxado, é importante a pessoa tentar se identificar. Como foram os últimos minutos antes do gatilho, o que ela estava falando, onde ela estava. Identificar o que fez ela sentir essas coisas ruins.

📌 Decidir: por isso é importante estar relaxado, para ir para a etapa de decisão. Refletir sobre essa pessoa, objeto, lugar ou vivência que te deu gatilho. É hora de decidir se vale a pena continuar nesse lugar, nesse sentimento.

Autocuidado é fundamental


A especialista explica que, para conhecer os gatilhos, a pessoa precisa investir em autocuidado e autoconhecimento.

"Procurar uma boa psicoterapia para que a gente possa entender quais são as questões que ainda não estão bem resolvidas dentro de nós para que a gente possa ir eliminando os gatilhos emocionais".

Maria Clara explica que o gatilho é algo que estava ali, mas que de alguma maneira não se consegue trabalhar, mas que é importante ir atrás.

Depressão

A depressão é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o "Mal do Século". No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si. A depressão provoca ainda ausência de prazer em coisas que antes faziam bem e grande oscilação de humor e pensamentos, que podem culminar em comportamentos e atos suicidas. 

Sintomas da depressão

Na condição da depressão, manifestam-se tanto sintomas psicológicos como físicos. Entre eles, os mais comuns incluem:

Humor deprimido e alterações do afeto: o indivíduo experimenta tristeza constante, com uma redução significativa da capacidade de sentir prazer em atividades que antes eram fonte de satisfação. Além da tristeza, é comum a manifestação de apatia e anestesia emocional, fazendo com que a pessoa reaja pouco ou nada às situações ao seu redor.

Sintomas físicos: prevalece a falta de energia, lentidão nos movimentos e uma sensação constante de cansaço. Embora a inquietação possa ocorrer, é menos frequente. Também são notadas variações no padrão de sono, como um aumento na sonolência e modificações no apetite, podendo resultar em ganho ou perda de peso.

Desempenho cognitivo: pode incluir piora da memória, dificuldade de concentração, e insegurança na tomada de decisões.

Pensamentos negativos: tornam difícil para o indivíduo perceber os aspectos positivos do dia a dia. 

Causas:

A depressão é uma doença. Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos. Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não causa da depressão. Vale ressaltar que o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética. A prevalência (número de casos numa população) da depressão é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no

Vários fatores podem desempenhar um papel no surgimento do transtorno:

Bioquímica: Diferenças em certas substâncias químicas no cérebro podem contribuir para os sintomas.

Genética: Depressão pode ocorrer em famílias. Por exemplo, se um gêmeo idêntico tem depressão, o outro tem 70% de chance de ter a doença em algum momento da vida.

Personalidade: Pessoas com baixa autoestima, que são facilmente oprimidas pelo estresse, ou que são geralmente pessimistas, parecem mais propensas a sofrer de depressão.

Fatores ambientais: A exposição contínua à violência, negligência, abuso ou pobreza pode tornar algumas pessoas mais vulneráveis à depressão.

Além disso, existem ainda outros fatores que podem aumentar a chance de ter depressão:

  • Transtornos psiquiátricos correlatos;
  • Estresse e ansiedade crônicos;
  • Disfunções hormonais, problemas na tireoide;
  • Excesso de peso, sedentarismo e dieta desregrada;
  • Vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas);
  • Hiper conexão e excesso de estímulos, como o uso excessivo de internet e redes sociais;
  • Traumas físicos ou psicológicos, experiências de violência doméstica ou abuso;
  • Separação conjugal, perda de emprego, desemprego por tempo prolongado ou a perda de uma pessoa muito querida;
  • Fibromialgia e outras dores crônicas;

A depressão, especialmente na meia-idade ou em adultos mais velhos, pode ocorrer em conjunto com outras doenças médicas graves, como diabetes, câncer, doenças cardíacas e doença de Parkinson. Estas condições são muitas vezes piores quando a depressão está presente.

Às vezes, medicamentos tomados para estas doenças físicas podem causar efeitos colaterais que contribuem para a depressão. Um médico experiente no tratamento destas doenças pode ajudar a elaborar a melhor estratégia de tratamento.

Tipos de depressão

Depressão psicótica - ocorre quando uma pessoa sofre de depressão grave, além de alguma forma de psicose, como ter falsas crenças fixas perturbadoras (delírios), ouvir ou ver coisas que outras pessoas não conseguem ouvir ou ver (alucinações).  

Assim, trata-se de uma categoria atípica de depressão maior, onde as pessoas demonstram sintomas psicóticos e comportamento depressivo geral ao mesmo tempo. Os sintomas psicóticos normalmente têm um “tema” depressivo, como delírios de culpa, pobreza ou doença.

Transtorno afetivo sazonal - é caracterizado pelo início de um quadro de tristeza prolongada durante os meses de inverno, quando há menos luz solar natural.

A depressão de inverno, como costuma ser conhecida, é uma forma de depressão que, como o próprio nome diz, ocorre principalmente durante o outono e o inverno, onde a falta de luz solar pode tornar as pessoas mais vulneráveis a flutuações normais de humor.

Normalmente é acompanhada do aumento do sono e ganho de peso.

Transtorno afetivo bipolar - é diferente da depressão, mas é incluído nesta lista porque alguém com transtorno bipolar  vivencia episódios de humores extremamente baixos que atendem aos critérios de depressão maior (chamado “depressão bipolar”).

Uma pessoa com transtorno bipolar também experimenta estados altamente elevados – eufóricos ou irritáveis ​​- chamados de “mania” ou uma forma menos grave chamada “hipomania”.

Assim, exemplos de outros tipos de distúrbios depressivos recentemente adicionados à classificação diagnóstica do DSM-5 incluem distúrbios disruptivos de humor (diagnosticados em crianças e adolescentes) e distúrbio disfórico pré-menstrual.

Como funciona um antidepressivo

Existem três moléculas básicas, conhecidas quimicamente como monoaminas, que se acredita estarem envolvidas na regulação do humor.

Estes funcionam principalmente como neurotransmissores, que literalmente transmitem sinais nervosos aos seus receptores correspondentes no cérebro. Os antidepressivos atuam influenciando esses neurotransmissores, que incluem:

Serotonina, o neurotransmissor cujo papel é regular o humor, o apetite, o sono, a memória, o comportamento social e o desejo sexual;

Norepinefrina, que influencia o estado de alerta e a função motora e ajuda a regular a pressão arterial e a frequência cardíaca em resposta ao estresse;

Dopamina, que desempenha um papel central na tomada de decisões, motivação, excitação e sinalização de prazer e recompensa.

Em pessoas com depressão, a disponibilidade desses neurotransmissores no cérebro é caracteristicamente baixa. Os antidepressivos funcionam aumentando a disponibilidade de um ou vários desses neurotransmissores de maneiras diferentes e distintas.

Das cinco classes principais de antidepressivos, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) e os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da norepinefrina (IRSNs) são os mais comumente prescritos, particularmente no tratamento de primeira linha.

Há um número de antidepressivos que funcionam impedindo a reabsorção de neurotransmissores no corpo. Coletivamente conhecidos como inibidores de recaptação, eles impedem a recaptação de um ou mais neurotransmissores, de modo que mais estejam disponíveis e ativos no cérebro.

Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina atuam inibindo especificamente a recaptação da serotonina. ISRS são uma nova classe de antidepressivos desenvolvida pela primeira vez durante a década de 1970.

Exemplos incluem:

Esses medicamentos tendem a ter menos efeitos colaterais do que os antidepressivos mais antigos, mas ainda são conhecidos por náuseas, insônia, nervosismo, tremores e disfunção sexual.

Além de tratar a depressão, eles são por vezes utilizados para tratar transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtornos alimentares e ejaculação precoce. Eles também se mostraram úteis durante a recuperação do AVC.

Psicoterapia

Vários tipos de psicoterapia podem ajudar as pessoas com depressão. Exemplos de abordagens baseadas em evidências específicas para o tratamento da depressão incluem terapia cognitivo comportamental (TCC), terapia interpessoal e terapia de resolução de problemas.

A psicoterapia pode envolver apenas o indivíduo, mas pode incluir outros. Por exemplo, a terapia familiar ou de casais pode ajudar a resolver problemas dentro desses relacionamentos íntimos. Terapia de grupo envolve pessoas com doenças semelhantes.

Dependendo da gravidade da depressão, o tratamento pode levar algumas semanas ou muito mais tempo. Em muitos casos, melhorias significativas podem ser feitas em 10 a 15 sessões.

Terapias de Estímulo Cerebral

Se os medicamentos não reduzem os sintomas de depressão, a terapia eletroconvulsiva (ECT) pode ser uma opção a ser explorada. Com base nas últimas pesquisas:

ECT pode fornecer alívio para pessoas com depressão grave que não foram capazes de se sentir melhor com outros tratamentos.

Trata-se de um procedimento feito sob anestesia geral, no qual pequenas correntes elétricas passam pelo cérebro, desencadeando intencionalmente uma breve convulsão. A ECT parece causar mudanças na química cerebral que podem reverter rapidamente os sintomas de certas doenças mentais.

Um paciente normalmente recebe a terapia eletroconvulsiva duas a três vezes por semana para um total de seis a 12 tratamentos. A ECT tem sido usada desde a década de 1940, e muitos anos de pesquisa levaram a grandes melhorias. Geralmente é gerenciado por uma equipe de profissionais médicos treinados, incluindo um psiquiatra, um anestesista e uma enfermeira ou um médico assistente.

Embora antes fosse um tratamento que exigia internação, hoje a ECT é muitas vezes realizada em regime ambulatorial, com correntes elétricas fornecidas em um ambiente controlado para obter o maior benefício com o menor número possível de riscos.

A ECT pode causar alguns efeitos colaterais, incluindo confusão, desorientação e perda de memória. Normalmente, esses efeitos colaterais são de curto prazo.

Como prevenir a depressão?

Depressão tem recaídas. É fato. 50% das pessoas que têm ou já tiveram um episódio de depressão mais grave terão recaídas, e essa probabilidade aumenta se elas já tiveram mais de um episódio.

Entretanto, após um tratamento bem feito, é possível adicionar atividades e cuidados à rotina para tentar evitar as recaídas. Vale lembrar que estas mudanças também podem ser parte do processo de tratar a depressão, e ajudarão também. 

Fontes:

https://www.einstein.br

Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo
Universidade Federal de Minas Gerais – Revista de Psicofisiologia